sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Frase da semana # 11
sábado, 28 de abril de 2012
O FILÓSOFO E A MONTANHA.
domingo, 4 de março de 2012
Relaxa e Chora


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
CARNAVAL: AFINAL, A MULTIDÃO SE JUNTA PARA QUÊ?
Não quero dar um de "Freud da Humanidade" e colocar todos no divã, mas fazer algo só porque os outros fazem é ridículo. Temos que fazer algo que tenha um sentido para nós. Nem que o sentido seja criado a posteriore, mas então que pelo menos haja uma intenção.
Este ano resolvi pular Carnaval com a intensão de descobrir o que as pessoas comemoram, afinal sei muito bem no país em que vivo e tirando os recursos naturais o Brasil tem pouco a celebrar.
Após essa rápida introdução, passo agora para o relato da minha experiência durante o Carnaval carioca 2012. Comecemos pelo final, domingo 26/02/2012 (o resto no momento é irrelevante). Depois de sair do trabalho às 7h da manhã, passei em casa e fui para o centro da cidade, onde estava tocando um dos blocos mais populares o MONOBLOCO.
Inicialmente pensei que as pessoas gostassem de Carnaval pela questão sexual envolvida. As pessoas bebem, se vestem diferente, dançam, encontram um parceiro e transam. Basicamente um comportamento primitivo e animalesco da dança do acasalamento. Mas estando no meio da coisa toda, deu pra ver que há outros elemtos em jogo. Mesmo que a intenção orginal de todos (seja ela consciente ou não) envolvidos seja encontrar um parceiro sexual para a satisfação do desejo, muitos mascaram essa vontade alegando que sua única intenção é a diversão. Pois bem, a diversão a que se referem não é o prazer hedonista do álcool, nem o sexo “fácil”. Já que álcool em abundância pode ser ingerido em qualquer época do ano, nos mais variados locais.
Acho que o que faz as pessoa se reunirem, em primeiro lugar vem a vontade de fazer parte algo muito maior do que si mesmo. Um desejo de retorno ao estado primordial de anulação do seu eu. Literalmente querem se perder na multidão. É como ter uma identidade superior e abrangente, se assemelha a fazer parte de um país, ou time de futebol e ir ao estádio e depois, quando falam em brasileiros, flamenguistas, corinthianos, as pessoas sentem-se parte desse todo, que é na verdade um grande EU COLETIVO, formado por diversas singularidades anônimas.
Se viajar no metrô sentido Zona Norte do Rio de Janeiro me fez descobrir como é que uma pasta de dente se sente ao sair do tubo quando ele é comprimido, participar do MONOBLOCO me fez lembrar como era ser um espermatozoide 28 anos atrás. Obviamente eu não tive uma recordação genuina, mas as condições reproduzidas me fizeram sentir como se eu estivesse em uma reencenação do momento da concepção.
Seguir o MONOBLOCO foi uma mistura de sauna mista ao ar livre com drenagem linfática intensa. Um bando de indivíduos, meninos, meninas e o terceiro sexo, todos juntos comprimidos em um espaço apertado sendo empurrados como em uma onda incontrolável, suando sob um calor de 40 graus ao sol do meio-dia seguindo um carrinho de som tocando músicas na maior parte do tempo inaudíveis. Depois de uma hora tentando sobreviver enquanto desenvolvia alguns pensamentos eu desisti. E esse foi o tempo que levei para andar cerda de dois quarteirões apenas.
Me chamem de chato, mas eu não chamaria a experiência de diversão. A maior parte do tempo foi assustador. Se alguém caísse, certamente seria pisoteado, se houvesse briga seria espancado, se houvesse um ataque terrorista... enfim. Parece perigosa a ideia de botar tanta gente junta. Mesmo que a princípio todos ali envolvidos saibam previamente o que irá acontecer e tem a intenção de se divertir, o resultado nem sempre é condizente com o esperado. Podem achar que não me diverti porque estava sozinho, mas se estivesse com amigos ou namorada, não demoraria muito a perdê-los no meio do mar de gente. Eu não conheci ninguém legal, não beijei ninguém e mal consegui tomar uma cerveja sem me babar todo. Sem falar na chuva de cerveja que ocorria em pancadas esporádicas ao londo de todo o percurso. Eu mal ouvi as músicas que eles tocaram. Isso que eu cheguei bem perto do carro de som, o mais perto possível. Tudo isso a troco de que? De pular Carnaval no Rio. No meio de toda aquela gente, pular se transforma em é uma questão de sobrevivência.
Pareceria apenas insano, ou incompreensível que pessoas viagem quilometros de distância, façam reservas em hotéis, pousadas e albergues, durmam mal se alimente precariamente, gastem um monte de dinheiro, isso se não houvesse uma explicação.

A única conclusão que chego é que pessoas gostam de aglomerações. Seja em Tahrir Square durante a primavera árabe por questões políticas, seja nos jogos de futebol pelo amor ao esporte, seja durante os shows do Rock in Rio pela admiração a arte, seja lá onde for, as pessoas gostam de ficar se espremendo no meio de multidões por motivos distintos. Todos juntos suando e se roçando com uma finalidade em comum. Como o Brasil é um país feliz e sem problemas, as pessoas apenas se juntam para transpirar juntas. No Carnaval a multidão se junta para nada, se junta para se juntar. Se aqui fosse outro lugar, as pessoas continuariam a se juntar, mas por motivos diferentes.
Isso pode não ser nenhuma grande descoberta, mas o fato político mais marcante que isso demonstra é que as pessoas no Brasil só se reunem para fazer festa. Pois para juntar mil pessoas para protestar contra qualquer uma das muitas coisas erradas nesse país demanda um grande trabalho de persuasão. As pessoas acham perda de tempo lutar pelos seus direitos. Mas para se “divertir” todos sempre parecem ter tempo o suficiente para gastar.

Poderia me ater a falar das “maravilhas” Carnaval, mas este papel eu deixo reservado para a grande mídia, e poderia falar da alienação do Carnaval, mas este é o discurso dos esquerdistas intelectualódes.
Então fica aqui a minha singela contribuição, vamos continuar celebrando a cada Fevereiro e feriado como idiotas, pois está tudo bem. O país não tem problema algum é tudo festa. Vamos fazer do Brasil um país internacionalmente conhecido por sua alegria e tolerância. Pois aqui, para as coisas serem consideradas ruins elas têm que estar pior, muito pior do que deveria ser o tolerável.
A minha maior insatisfação com o Carnaval é essa: pra juntar meio milhão de pessoas sem motivo nenhum, é fácil, para juntar esse mesmo número de pessoas por alguma razão realmente importante é quase impossível. Se isso faz sentido para você me explique, pois pra mim não faz o menor sentido. E viva o Brasil: o país do nonsense! E ano que vem tem mais Carnaval. Só não esqueçam esse é um ano de eleições...
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Sayonará Gangsters: Um exemplo da louca literatura japonesa contemporânea.

Sayonará Gangsters de Genichiro Takahashi é uma história despretensiosa. Nas primeiras palavras começamos a ser conduzidos por um obra que não sabemos onde nos levará. A narrativa inventiva e criativa, vai nos conduzindo com sua naturalidade ao absurdo, como se vivêssemos dentro dos sonhos de alguém. Podemos dizer que o livro não possui diversos méritos, entretanto é impossível mesmo para a mente perspicaz do mais exímios enxadrista da atualidade considerar os movimentos da história previsíveis.
O título Sayonará Gangsters é o nome do personagem principal. Quem deu a ele esse nome foi sua namorada Song Book de Miyuki Nakajima. Eles vivem em uma época em que as pessoas não recebem mais nomes colocados pelos pais quando nascem, e elas também já não se autonomeiam mais como antes. Agora são os amantes dão nomes uns aos outros.
Song Book durante muito tempo viveu com um gângster. Agora ela não quer mais ser um gângster. Sayonará Gangster é professor numa escola de poesia. Ele escreve poesia, para ele "escrever poesia é algo patológico". Ele tem alunos de todos os tipos vindos do universo inteiros. Entre eles estão a senhora com o MONSTRO DE GILA, gêmeos quíntuplos indistinguíveis, uma colegial (cujo pai, a mãe, e os avós são psicanalistas) que recebe estranhas ligações de um homem (que não passam de ilusões criadas pelo seu desejo sexual), um astrônomo, um refrigerador que é a reencarnação do poeta Virgílio, a coisa Incompreensível, um jupteriano (com novas definições de tempo, morte e gênero), um espião da CIA, infiltrado na KGB que namora uma espiã da KGB infiltrada na CIA.
Todos tem em comum a vontade de serem poetas. Mas a poesia não é uma ciência exata e as lições que se deve aprender para exercer esta arte são personalizadas e cada aluno precisa ouvir algo diferente. Cabe ao professor problematizar o processo muito mais do que apresentar soluções. Só que as aulas se concentra na segunda parte do livro. Esqueci de mencionar algo importante. Um vampiro mora na sala ao lado. Mas quem tem medo de vampiros?
A primeira parte nos apresenta o personagem principal e seu envolvimento com a nova namorada. Eles tem um gato, Henrique IV. O gato do casal tem muita personalidade e gosta de ler o jornal todas as manhã.
O casal tem uma filha, após a gravidez relâmpago de Song Book que durou um dia. O bebê pula para fora da barriga e em poucas horas já está falando. O nome dela é Caraway para ele e Mindinho Verde para ela. Após um período divertido em que o casal passa junto com a nova menininha, eles recebem uma carta da prefeitura, pela manhã, avisando que naquela mesma noite, a criança iria morrer. É assim que as coisas funcionam nessa realidade e com a menina morta Sayonará Gangster parte para o cemitério que lembra mais uma loja de departamentos onde são depositados os corpos.
Na terceira e última parte os antigos compassas de Song Book retornam para buscá-la e durante muitas páginas vemos correr um rio de sangue até o catastrófico e revelador final.

No final do livro Henrique IV muda e que muito um ler um livro de contos de Thomas Mann.
A história parece completamente despretensiosa, a primeira vista, mas convida o leitor a aceitar como natural os maiores absurdos.
Os capítulos são curtíssimos, alguns com uma linha, ou com uma frase. A leitura é o mais fácil possível. E os estranhamentos desaparecem a medida em que nos sentimos confortáveis num ambiente nos todas as contradições são permitidas e onde as barreiras da lógica foram rompidas. Uma boa leitura para que quiser tirar férias de literatura convencional e se deleitar com um livro original e em alguns momentos com ideias muito delicadas.
As três melhores frases do livro para mim são:
“Todos aqueles que durante longo tempo experimenta dificuldades na vida acaba se tornando malévolo.”
“Quando começarem a fazer celas de tamanhos diferentes, não conseguiremos mais distinguir prisioneiros de guardas.”
“É enfadonho ter um único nome.”
Seguindo os passos de Machado de Assis

Machado de Assis é um dos meus atuais objetos de estudo. Acabo de ler a Biografia Machado de Assis: um gênio brasileiro do jornalista Daniel Piza. Achei-a excelente. Gostei do ritmo ágil e moderno com que o livro foi escrito, e apreciei a clareza com que os fatos são apresentados. Muitas vezes, o que ocorre nas biografias é que elas abandonam o personagem retratado – depois de uma breve contextualização da época ao qual ele está inserido – solto no tempo. Neste caso, Piza faz uma introdução satisfatória sobre as mudanças de cada época e apresenta a forma com que elas influenciaram na escrita de Machado, principalmente em relação as crônicas que foi o gênero literário em que o autor certamente foi mais prolífico.
O texto não chega a ser tão específico sobre a intimidade de Machado a ponto de nos dizer as cores das cuecas que ele usava ou o que ele comia no café da manhã, até porque ele era uma pessoa reservada (mas estas são ordinariedades que a ninguém mais interessam, apenas a um pesquisador obcecadamente detalhista como eu). Tais miudezas, talvez seja inacessíveis se tratando de Machado, um pessoa que sempre manteve sua privacidade resguardada. Dessa leitura, além de Machado como grande cronista, o que emerge para mim é o sofrimento do autor por causa dos problemas de saúde; os ataques epiléticos constantes, as dores no estômago por causa dos remédios fortes e as inflamações na visão, forma problemas que o impediam de trabalhar por grandes períodos. Mesmo assim ele sempre manteve uma produção vasta, publicando em média um livro a cada dois ano, entre romances, contos, poesias, peças de teatro e traduções (sem falar nas crônicas semanais publicadas em jornais).

Machado era um abolicionista, mas monarquista. Ele era um cético. Não tinha o otimismo ingênuo de crer que a mudança das pessoas no comando alteraria a índole dos políticos. Machado considerava o país imaturo e sem uma tradição para virar uma democracia. Mesmo tratando de temas relevantes para a política nacional em suas crônicas, Machado parece abster-se de um posicionamento mais rígido entre um lado e outro de algumas questões. Não faz uma campanha para as melhores condições dos escravos libertos, não escreveu uma linha sobre a Revolta da Armada e na Guerra do Paraguai adota uma postura nacionalista e ufanista. Machado não ignorava alguns dos graves problemas nacionais, mas preferia comentar como se estivesse observando tudo de fora, ou fingindo que o problema não existia. Nesse sentido Ângelo Agostini da Revista Ilustrada era muito mais combativo e engajado no debate sobre a luta por transformações políticas e sociais. Acho que por ser um funcionário público, ele evitava fazer inimizades ou críticas severas que angariassem prejuízos para sua vida pessoal. Se ter consciência de um problema grave e ignorá-lo propositalmente para não se incomodar é um pecado, podemos eleger a omissão com um dos defeitos machadianos. Não uma falha enquanto autor, ou literato, mas uma falha enquanto humano que compactua com atrocidades sem levantar sua voz de maneira firme e incisiva contra elas.
Por causa dos problemas de saúde, por covardia, ou para fazer um tributo ao filósofo Sócrates, Machado jamais afastou-se do Rio de Janeiro. Assim como o sábio grego nunca deixou Atenas, e até preferiu a morte ao invés de abandonar sua cidade, o ilustre morador do Cosme Velho, salvo raras exceções, quase nunca se afastou da capital do Império. Ele passou temporadas em Friburgo, Petrópolis e Barbacena, em geral para se recuperar dos problemas de saúde. Todos destinos como um raio de distância inferior a 300 Km de distância. Esta falta de visão do mundo exterior através dos próprios olhos, davam-lhe certo provincianismo existencial, mas não intelectual. Pois ele lia os jornais franceses, traduzia os melhores literatos do francês e do inglês, estudava grego, enfim, era um homem da cultura. Viajava através do pensamento para o passado distante e vivia as aventuras de seu tempo através da vida dos personagens da literatura universal.
Talvez, meus leitores pensem que estou sendo muito severo em minhas observações, mas estou mais interessado na psicologia do homem, do que na manutenção do mito, ou na revelação da identidade do autor, por isso dou-me a liberdade de fazer algumas suposições extravagantes.
Uma das viagens de Machado teve um significado particular, quando partiu em 1880 para Nova Friburgo, ele sentia-se quase morto quando. Ele já não mais percebia-se parte do mundo dos vivos. Foi assim, de tal estado psiquico, que nasceu a grande virada na sua obra e surgiu Brás Cubas. No mesmo período de intenso sofrimento, foi também redigido O Alienista, um dos seus contos mais celebres. Machado prova sua genialidade ao supera um período de grave dificuldade física do qual emergiu, após intenso sofrimento, com duas sensacionais obras de arte. Peças da literatura nacional que continua a ser lidas, referidas e estudadas como marcas na mudança dos rumos das letras no país.
Na primeira, o autor personagem Brás Cubas vai traçando o próprio perfil, e Machado nos apresenta um homem que pode falar sem papas na língua por ter a liberdade que só a morte permite. Na segunda, uma verdadeiro estudo sobre a loucura e uma crítica a ciência dogmática são expostos através da exposição dos experimentos do alienista Simão Bacamarte.
Não perderei meu tempo como comentários longos sobre esta duas obras muito bem conhecidas, nem tampouco falarei da ironia de machadiana, um lugar tão comum na análise literária que parece já não haver mais nada ser dito sobre este ponto. Também não perguntarei mais uma vez a eterna dúvida: “Capitu traiu, ou não traiu Bentinho?”. Menterei-me na superficialidade nos comentários desavergonados. Apenas destaco que a biografia não me esclareceu a origem do apelido Bruxo do Cosme Velho, que pelo que saiba foi uma atribuição póstuma que partiu de Carlos Drummond de Andrade, por razões que ainda me inquietam.

A presente biografia também não menciona em nenhum momento as especulações sensacionalistas que recentemente foram defendidas por um pesquisador, segundo a qual, Mário de Alencar, filho de José de Alencar, seria na verdade filho de uma relação extraconjugal de Machado de Assis com a esposa de Alencar. Em consequência de tal hipótese, o autor de tais suposições afirma que o romance Dom Casmurro teria traços biográficos relacionados ao adultério cometido por Machado de Assis.
Se o tal apelido tem alguma magia escondida, ou se as fofocas das más línguas de outrora tem eco no presente, isto no quadro geral, pouco acrescenta ao monumento que Machado representa na literatura nacional.
REFERÊNCIA
PIZA, Daniel. Machado de Assis: um gênio brasileiro. Ed. 2º. São Paulo: Imprensa Oficial SP, 2006. Número de páginas: 416
Para maiores informações, leia o texto do jornalista Daniel Piza, autor da supracitada biografia, onde ele deleuzianamente faz a desconstrução de alguns mitos machadianos.
domingo, 27 de novembro de 2011
Neverwhere de Neil Gaiman: uma fantasia urbana.


Neverwhere de Neil Gaiman: uma fantasia urbana
Tornei-me admirador da obra de Gaiman após ler algumas edições de Sandman. Esta semana terminei de ler o seu livro Neverwhere. Nele, todo um universo, com seus personagens, intrigas, perigos e existe em uma Londres alternativa abaixo da superfície. Em Londres Subterrânea (London Below), moradores de rua e outros habitantes tem uma sociedade completamente a parte do mundo da superfície, sem que sejam percebidos pelas pessoas de cima. Os ratos são os mensageiros desse mundo, eles caminham pelos túneis imundos dos esgotos levando e trazendo mensagens para as pessoas que conseguem se comunicar com eles.
Os cenários descritos são fascinantes e amedrontadores. Um dos lugares mais interessantes para se visitar em London Below é o Mercado Flutuante (Floatig Market). Uma espécie de feira itinerante que todo semana muda de endereço. Podendo aparecer nos lugares mais inusitados como em Westminster Abbey, em Harrods, a loja de departamento mais cara e famosa de Londres (equivalente a Das Lú no Brasil.) ou no navio de guerra Belfast no meio do rio Thames. Dentro do mercado, há um pacto entre os grupos, portanto crimes não podem ser cometidos lá dentro, mas as pontes que levam até lá são os lugares mais perigosos que existem. As descrições dos subterrâneos são atmosféricas, as riquezas de detalhes que compõe o mercado flutuante fazem com que nós sentíamos gostos e cheiros inusitados à medida que a leitura progride.
Uma das curiosidades dessa obra é a maneira como Gaiman cria uma personalidade para estações de trem e outros lugares. Nomes dados a mais de duzentos anos já perderam o significado, e resgatando essa história perdida ele transforma uma estação em uma personalidade e explora dessa foram a psique de um parte da cidade. Islington, Old Bailey, Black Friars, Earl’s Court, entre outros ganham vida. Uma estação que tem um nome curioso, mas que só é citada no livro sem ter relevância é a Castelo e Elefante (Elephant & Castle). Mas acho que uma boa historio poderia se passar lá só para explicar como um elefante foi parar em castelo no sul de Londres.
(imagem dos personagens Door, Hunter e Richard na serie de TV)
Na história nos acompanhamos a jornada de Richard Mayhew and Lady Door. Richard é um escocês vivendo em Londres. Ele é realmente uma pessoa ordinária, tem uma vida mundana, um emprego monótono e uma namorada chata e irritante, que o faz passar horas andando por todos os museus da cidade. Enfim uma cara normal. A vida de Richard muda de rumo quando em uma noite ele encontra Door machucada e caída na rua. Ao ajudá-la Richard é tragado de maneira inescapável para um mundo diferente. Ela, como seu nome deixa claro, é um portal para a Londres Below. O novo mundo ao qual Richard passa a fazer parte é perigoso, sujo e assustador, com assassinos imortais, anjos malignos, criaturas geladas que sugam o calor de sua vida com um beijo, monges medievais, uma corte de uma rei decadente e uma besta que se esconde na neblina.
Primeiro todos que ele conhecia se esquecem da sua existência. Da noite para o dia ele perde o emprego, outras pessoas passam a morar na sua casa, a namorada termina o relacionamento, e nenhuma pessoa parece perceber a existência de Richard em Lodon Above. Ele procura Door para entender o que aconteceu com sua vida e quer ajuda para obtê-la de volta.
Durante a jornada outros personagens juntam-se ao grupo e eles passam a investigar quem está tentando matar toda a família de Door. Hunter é a guerreira do grupo, ela foi contratada como a guarda-costas de Door, Marquês de Carabas com seu sorriso sedutor cuida da parte diplomática, ele sempre sabe aonde ir, com quem falar e como negociar. Richard é o cara perdido que seguimos dentro desse mundo misterioso e fantástico, a medida em que ele vai entendendo como as coisa funcionam no underground nós também vamos.
Durante todo o tempo eles são perseguidos pelos perigosos assassinos Mr. Croup and Mr.Vandermar (que lembra uma outra dupla de criminosos muito eloquentes de Sin City de Frank Miller). No começo, a história é narrada de uma maneira divertida, pelo lado patético do personagem principal, como Richard sendo xingado e ignorado por todos. Mas a media que a narrativa progride podemos sentir o drama que seria desaparecer para a sociedade, não ser um ninguém e passamos pela sensação da perda de identidade social. Isso obriga o personagem a criar uma nova identidade, pois ele naquele novo mundo ainda não é nada e no mundo antigo ele deixou de ser o que era até aquele momento.
Richard não abraça bem a idea de ser alguém novo e luta o tempo todo para recuperar a identidade perdida ao invés de construir uma nova. O final do livro depois do clímax e dos tradicionais reviravoltas no roteiro caminha para seu derradeiro e previsível final.
A leitura é fácil e recomendo a todos que queira uma pouco de fantasia gótica em suas vidas.
(Imgens da adaptação para os quadrinhos)
SPOILER. Após finalmente conseguir voltar para casa Richard sente que não pertence mais aquela vida e almeja voltar para London Below, mas não sabe como fazer isso. Dentre as coisa que para mim ficaram sem explicação está a morte e ressurreição de Marques de Carabas. Ele sobreviveu a uma decapitação. Obviamente ele é uma criatura mágica, mas de qual tipo não compreendi. A traição de Hunter me surpreendeu, pois pensei que Carabas era o traidor. No final Hunter morre e Richard torna-se o guerreiro do grupo após matar a besta usando a faca que pertencia a Hunter. E o romance entre ele e Door não acontece, mas o clima entre os dois permanece por toda a trajetória. Mesmo no final quando ela insiste para que eles fiquem juntos Richard decide partir.