segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sayonará Gangsters: Um exemplo da louca literatura japonesa contemporânea.


Sayonará Gangsters de Genichiro Takahashi é uma história despretensiosa. Nas primeiras palavras começamos a ser conduzidos por um obra que não sabemos onde nos levará. A narrativa inventiva e criativa, vai nos conduzindo com sua naturalidade ao absurdo, como se vivêssemos dentro dos sonhos de alguém. Podemos dizer que o livro não possui diversos méritos, entretanto é impossível mesmo para a mente perspicaz do mais exímios enxadrista da atualidade considerar os movimentos da história previsíveis.


O título Sayonará Gangsters é o nome do personagem principal. Quem deu a ele esse nome foi sua namorada Song Book de Miyuki Nakajima. Eles vivem em uma época em que as pessoas não recebem mais nomes colocados pelos pais quando nascem, e elas também já não se autonomeiam mais como antes. Agora são os amantes dão nomes uns aos outros.


Song Book durante muito tempo viveu com um gângster. Agora ela não quer mais ser um gângster. Sayonará Gangster é professor numa escola de poesia. Ele escreve poesia, para ele "escrever poesia é algo patológico". Ele tem alunos de todos os tipos vindos do universo inteiros. Entre eles estão a senhora com o MONSTRO DE GILA, gêmeos quíntuplos indistinguíveis, uma colegial (cujo pai, a mãe, e os avós são psicanalistas) que recebe estranhas ligações de um homem (que não passam de ilusões criadas pelo seu desejo sexual), um astrônomo, um refrigerador que é a reencarnação do poeta Virgílio, a coisa Incompreensível, um jupteriano (com novas definições de tempo, morte e gênero), um espião da CIA, infiltrado na KGB que namora uma espiã da KGB infiltrada na CIA.


Todos tem em comum a vontade de serem poetas. Mas a poesia não é uma ciência exata e as lições que se deve aprender para exercer esta arte são personalizadas e cada aluno precisa ouvir algo diferente. Cabe ao professor problematizar o processo muito mais do que apresentar soluções. Só que as aulas se concentra na segunda parte do livro. Esqueci de mencionar algo importante. Um vampiro mora na sala ao lado. Mas quem tem medo de vampiros?

A primeira parte nos apresenta o personagem principal e seu envolvimento com a nova namorada. Eles tem um gato, Henrique IV. O gato do casal tem muita personalidade e gosta de ler o jornal todas as manhã.


O casal tem uma filha, após a gravidez relâmpago de Song Book que durou um dia. O bebê pula para fora da barriga e em poucas horas já está falando. O nome dela é Caraway para ele e Mindinho Verde para ela. Após um período divertido em que o casal passa junto com a nova menininha, eles recebem uma carta da prefeitura, pela manhã, avisando que naquela mesma noite, a criança iria morrer. É assim que as coisas funcionam nessa realidade e com a menina morta Sayonará Gangster parte para o cemitério que lembra mais uma loja de departamentos onde são depositados os corpos.

Na terceira e última parte os antigos compassas de Song Book retornam para buscá-la e durante muitas páginas vemos correr um rio de sangue até o catastrófico e revelador final.


No final do livro Henrique IV muda e que muito um ler um livro de contos de Thomas Mann.

A história parece completamente despretensiosa, a primeira vista, mas convida o leitor a aceitar como natural os maiores absurdos.

Os capítulos são curtíssimos, alguns com uma linha, ou com uma frase. A leitura é o mais fácil possível. E os estranhamentos desaparecem a medida em que nos sentimos confortáveis num ambiente nos todas as contradições são permitidas e onde as barreiras da lógica foram rompidas. Uma boa leitura para que quiser tirar férias de literatura convencional e se deleitar com um livro original e em alguns momentos com ideias muito delicadas.

As três melhores frases do livro para mim são:

“Todos aqueles que durante longo tempo experimenta dificuldades na vida acaba se tornando malévolo.”

“Quando começarem a fazer celas de tamanhos diferentes, não conseguiremos mais distinguir prisioneiros de guardas.”

“É enfadonho ter um único nome.”

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