sábado, 9 de abril de 2011

LORD VOLDEMORT E O MASSACRE EM REALENGO

Lord Voldemort é um nome que não deve ser pronunciado no mundo nos bruxos. Chamado de aquele-que-não-deve-ser-nomeado, o vilão da série Harry Potter (cujo final eu ainda não li), é assim chamado, pois todos crêem que quando seu nome é dito o vilão se fortalece, ou se aproxima. Essa semana um rapaz cometeu um atentado absurdo. O que ele fez é imperdoável e injustificável, mas compreensível se olharmos a realidade com o olhar distorcido que esse assassino olhava.
Quando eu freqüentava a escola e sofria bullying delirava e fantasiava a morte de todos os meus agressores para aliviar o sofrimento. Esse rapaz do massacre em Realengo, que não deveria ser nomeado, provavelmente viveu o mesmo. A diferença é que ele veio de um lar mais desestruturado do que aquele de onde saí, é claro que isso por si só não explica nenhum dos seus atos. O que quero dizer é que naquela época, antes mesmo do massacre de Columbine acontecer, e da banda larga que facilitou o acesso a informação, eu me perguntava: “Será que sou o único a sofrer esse tipo de violência?” Como as outras pessoas que passam pelas mesmas situações aguentam isso e não pegam uma arma e saem matam todas as pessoas que odeiam?”. A resposta veio com o tempo e logo esse tipo de crime passou a ser comum principalmente nos EUA. Enquanto que direcionei a minha vida e fiz do meu trabalho tentar compreender o incompreensível esse rapaz, que não deve ser nomeado, decidiu permanecer um incompreendido. Mas o que mais o movia era o desejo de construir uma identidade social. Essa identidade lhe foi negada no período escolar. Seja porque ele se excluía ou era o excluído e adotou esse rótulo.
Na sociedade midiática onde todos tentam aparecer de alguma forma a destruição de algo precioso como a vida de crianças inocente transforma um Zé-Ninguém em celebridade da tarde para a noite. Ele se mata e deixa um rastro de destruição para deixar de ser anônimo. Ele não queria só morrer queria aparecer. Seu ato repercutiu e ele se tornou uma pessoa pública seu nome é publicado em todos os jornais, sua vida é investigada em seus mínimos detalhes, quem o ignorava passa a falar sobre ele. Ele cria uma história. Ele vira história. De um nada passa ele passa a ser o autor do maior massacre em uma escola brasileira. A mídia fala seu nome e o liga a outros assassinos do mesmo tipo que surgiram em países mais desenvolvidos e o maior talento do assassino não foi a pontaria certeira e os disparos preciso que acertaram cerca de trinta tiros na cabeça e no tórax de meninas e meninos. Seu maior mérito não foi matar doze. Seu maior mérito foi se transformar em uma pessoa famosa, ele queria isso, esse é seu plano maligno. E quanto mais notícias são publicadas sobre ele, quanto mais escrevem e pensam sobre ele. Mais seus delírios megalomaníacos e grandiloquentes se realizam. Quando finalmente fizerem um filme sobre ele, o sucesso do seu plano terá sido completo ao criar uma identidade e passar a ser reconhecido. Por isso defendo em repúdio aos seus atos que ele nunca mais seja nomeado. Se a construção de uma identidade era o que ele queria. Isso não pode ser dado a ele, pois é como conceder-lhe um prêmio de bons serviços prestados. A impressa naturalmente ama esse tipo de maluco. Eles têm um trabalho fácil. Muita gente chorado para mostrar na TV e centenas de testemunhas com uma história triste para contar. Todos em casa ficam com medo e passam mais tempo dentro de casa. Isso aumenta o consumo e acaba sendo bom para a economia e o autor do massacre em Realengo se transforma no mais novo vilão das cônicas policiais nacionais. E falar tanto dele não gera só medo na população normal. Gera também inveja em todos os esquizitões, desprezados, humilhados e mal amados que sonham em um dia ser algo. Já que é melhor ser qualquer coisa do que não ser nada. É melhor o desprezo que a indiferença.
Num mundo de tantas câmeras não ser registrado, fotografado ou comentado é o pior dos castigos. Bem, um dia, um desses esquizitões, vítimas de bullying, vai querer ser lembrado também e como todo mundo conhece o nome deste que não deveria ser nomeado. A obra do doidão será finalizada quando ele se tornar o exemplo a ser seguido por aqueles que se identificam com ele, e isso irá gerara um sucessor e assim, surgirá um filho do seu ódio, e mais uma vez a história se repete com a ajuda da mídia, que o deixou mais famoso do que deveria. Crianças choram e morrem. E mais uma vez todos irão se perguntam por que ele fez isso? A resposta é essa: ele fez isso porque queria ser alguém. Por isso negar sua identidade deveria ser o seu castigo. As vítimas devem ser lembradas, mas a história do assassino não deveria ser escrita. Caso contrário, outros irão imitá-lo competindo nesse jogo sádico de assassinos de quem mata mais e assim subir no ranking nacional.