domingo, 7 de dezembro de 2014

ESCREVENDO O LIVRO MEMÓRIAS SEPULTADAS

             As pessoas me pergunta sobre como foi o processo de escrever meu primeiro romance.

             Confesso a vocês que não foi nada fácil.

           Eu sempre quis ser um escritor, era o meu sonho desde a infância. Esse foi um dos motivos que me levaram a estudar Filosofia na universidade e fazer um mestrado sobre Artes em que o tema principal são as tragédias gregas.

            Apesar de sempre ler muito, nunca me sentia bom o bastante para começar a escrever um romance. Sempre achava que precisava me preparar mais para poder contar um boa história. Até que percebi que escrever é como dançar, ou tocar um instrumento musical, você precisa praticar muito até ficar razoavelmente bom naquilo. Para me preparar comecei a escrever com mais regularidade, fiz algumas oficinas literárias, curso de roteiro cinematográfico, conversei com escritores famosos e pesquisei muito sobre o tema que queria escrever. Ainda hoje, não acho que escreva tão bem quanto gostaria. Mas estou satisfeito com o resultado do meu primeiro trabalho.
                                                        
            As primeiras anotações para o livro Memórias Sepultadas começaram a ser feitas em 2004. Mas foi só em  2008 que comecei a levar o projeto a sério. Meu mestrado porém tomou todo meu tempo livre e tive que, mais uma vez, adiar o projeto. Em 2011 parei de lecionar e comecei a me dedicar com exclusividade para finalizar esse romance. Após um ano digitando todas as minhas anotações e escrevendo as partes que faltavam, dei por encerrada a primeira versão da história. Depois, durante mais de dois anos fiquei revisando incessantemente e aprimorando a linguagem do texto. Quando tudo finalmente ficou como eu queria, mandei para a revisão.

            Muita coisa mudou desde o inicio da história. É difícil contar o que, ou entrar em detalhes, sem estragar parte do enredo, portanto, só falarei sobre isso depois que a história já for mais conhecida. O que posso dizer é que uma das minhas personagens favoritas foi excluída na versão final. Esse episódio se passava durante a Guerra do Paraguai e ficou de fora pelo tema e por causa do cenário não serem os mesmo que a história principal. Essa parte virou um conto independente chamo Ana Guerra que ainda não foi publicado e pode servir como base para uma nova narrativa longa (ainda não decidi).
            O ramo da arte é ardiloso. Você quer trabalhar nele, mas precisa viver. Então, arruma um emprego, e depois na hora de se dedicar à arte está tão cansado que não consegue fazê-lo. Mas quando amamos o que fazemos, encontramos um jeito de continuar fazendo. Eu sempre procurei empregos que me dessem a chance de escrever durante o expediente, nem que fosse só por alguns momentos. Sempre andava com uma caderneta no bolso e anotava cada ideia que tinha, depois selecionava as melhores para seguir em frente.      
            A escrita desse livro foi movida a desafios. Primeiramente pessoal, queria provar para mim mesmo que seria capaz de escrever uma narrativa longa e envolvente. O segundo desafio foi de uma amigo que em 2010 me disse que começar um livro era fácil o difícil seria terminá-lo. Ele estava certo, mas depois de muito empenho, consegui e estou contente com o resultado.
              Muitas pessoas me ajudaram a prosseguir ao longo da minha vida. Ainda não posso viver daquilo que escrevo, mas com persistência espero chegar lá. E mesmo que nunca consiga, jamais deixarei de escrever, pois isso me dá prazer.
            Sucesso e fracasso são questões relativas. O meu maior medo era de não escrever uma boa história. O pior que poderia acontecer era não conseguir terminar o livro. Só que isso eu consegui. Então, para mim, o livro já é um sucesso. Mesmo que ninguém mais estivesse satisfeito com o resultado final, isso não importaria, pois o livro já cumpriu a sua função. 

       Aprendi muita coisa escrevendo essa história. Agora que já estou familiarizado com os instrumentos da escrita, tenho uma visão complexa do processo pelo qual passei e tenho segurança para afirmar que será mais fácil escrever o próximo trabalho. Quanto ao fato de ter um grande público de leitores é um questão de tempo, pois sempre acreditei que um trabalho de qualidade cedo ou tarde encontrará o seu publico e será reconhecido como uma obra de arte de valor.


            Obrigado a todos os meus leitores.      

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A Última Noite no Convento

Essa história foi lida pela primeira vez em público ontem a noite 30-12-2014, no evento Vênus em Fúria - Sarau Pornô realizado no Signos Pub, na rua Joaquim Nabuco, Porto Alegre.


"Aquela foi a maior suruba de todos os tempos vista na cidade de Rosa Cruz."

A Última Noite no Convento

Essa história é verdadeira. Ela aconteceu em maio de 1941, em uma cidadezinha pouco conhecida chamada Rosa Cruz. Tudo começou depois da queda da ponte da cidade após um grande temporal. A cidade decretou estado de emergência, e o exército foi chamado para ajudar. Porém não havia onde acomodá-los, todas as casas, igreja, escolas e qualquer outro prédio público estavam inabitáveis, ou ocupados pelos desabrigados. O prefeito interino, Perpétuo Bocaiúva, teve então a brilhante ideia de hospedar um batalhão de quarenta soldados no único lugar que não tinha sofrido nenhum dano com as chuvas: o convento Nossa Senhora da Rosa Mística.
A coordenadora do lugar, Madre Teresa Dávila, diante da calamidade, cedeu aos apelos do prefeito e após o juramento do Major Godoberto Siqueira de Almeida Neto Fagundes dos Santos Filho de que nada de errado ocorreria, ela isolou metade do prédio para que os homens pudessem pernoitar lá. A construção quadrangular com um amplo pátio interno foi adaptada para receber, excepcionalmente por uma noite, aqueles hóspedes inusitados. As freiras ficariam na ala leste e os soldados na ala oeste, a ala sul e norte foram fechadas. Era um estado de emergência e os responsáveis concordaram que seria possível controlar a situação por uma noite, mais do que isso seria muito arriscado. As freiras eram pessoas castas, mesmo assim eram humanas, não seria saudável expô-las à tamanha provação da sua castidade, deixando-as à mercê de um bando de homens musculosos. Mas aquela seria uma noite inesquecível para todos e ficaria registrada no anedotário da cidade para sempre
As luzes dos corredores foram apagadas cedo. Todas as portas foram trancadas à chave e cada uma delas revisada três vezes. As chaves foram todas entregues à madre superiora. Os soldados estavam todos ouriçados e fizeram uma aposta para ver quem seria o primeiro a transar com uma das freiras. Neto e Gouveia, os dois soldados mais malandros do batalhão, resolveram aprontar uma brincadeira com os colegas. Os dois fugiram pela janela, foram até o varal, pegaram roupas de freiras e se vestiram como elas. Eles bloquearam a saída dos quartos da madre superiora e do major. Depois encontram numa sala vazia na ala leste e começaram o show. Usando luzes, os dois projetaram sombras na parede e simularam duas freiras tendo relações sexuais. Do outro lado, um dos soldados de binóculo viu e começou a acordar os outros. Os dois malandros soltavam gemidos estridentes, enquanto encenavam a cena de sexo oral. Aos poucos, as luzes da ala masculina começaram a se acender uma a uma e logo os quatro andares, com oito janelas em cada um deles, estavam iluminados. Em todas as janelas havia homens excitados assistindo aquela cena. Os soldados já estavam ficando loucos, até que não aguentaram mais e, ali mesmo nas janelas, puxaram os membros para fora das calças e começaram a se masturbar.
Uma das freiras do outro lado ouviu a movimentação e abriu a janela para ver o que estava acontecendo. Qual não foi sua surpresa quando ela viu, na sua frente, trinta e duas janelas abertas, todas elas com homens bem dotados. A mulher quase teve um desmaio naquela hora. Sem que percebesse, ela foi contagiada por aquele ambiente de virilidade e testosterona; logo ela, que sempre fora tão casta, tão pura, tão devota, colocou a mão no seu órgão sexual — como se quisesse calar o grito que dali queria sair — e começou a se tocar também. Nessa hora, o prazer parecia ser uma das belas criações divinas e só poderia ser um engano que aquilo figurasse na lista dos pecados. Os soldados a viram e isso a deixou ainda mais disposta a pecar. Seus gemidos e as luzes acesas acordaram suas colegas de quarto. As outras freiras também abriram as janelas para ver o que se passava. Uma foi acordando a outra e logo a ala leste inteira estava desperta, havia trinta e duas janelas com as luzes acesas, cada uma delas com mais de uma freira, todas elas olhando para aquele bando de homens com suas armas expostas, manobrando com perícia e destreza seus instrumentos. Num misto de temor e tremor, todos pareciam contagiar-se com a atmosfera que tomava conta do lugar; o cheiro de sexo estava no ar e ao respirarem aquilo, era como se que todos tivessem voltado a ser crianças, naquela inocente brincadeira de ‘mostra o teu que eu mostro o meu’. As freiras começaram a se tocar e logo eram trinta e duas janelas com homens se masturbando de um lado e trinta e uma janelas com freiras se tocando castamente do outro. Algumas mais ousadas auxiliavam as mais recatadas a se despirem e ensaiavam algumas carícias puritanas. As mais pecaminosas mandavam beijos para os soldados e as mais ousadas chamavam os soldados com os dedos provocativos, para que viessem comungar daqueles corpos-santos, já ardentes de desejo.
Os soldados eram bem treinados e não podiam resistir a um pedido de ajuda. Não se importando com a idade das freiras, partiram em seu auxílio. Improvisaram cordas com os lençóis, fronhas e cobertas. Foram descendo um a um até o pátio. As freiras, como Rapunzéis pecaminosas, jogavam seus lençóis enrolados como tranças para que seus irmãos de desejo subissem aos seus aposentos. Os soldados, bravamente, iam escalando as cordas improvisadas e invadindo o território aliado; as freiras os recepcionavam calorosamente e auxiliavam os soldados a se despirem de seus uniformes suados. Os soldados, no mais autêntico espírito de comunidade cristã, compartilhavam amigavelmente suas carnes abençoadas. E naquela noite, não houve soldado que quisesse fugir da batalha, nem freira que tenha evitado pronunciar o nome de Deus em vão. ‘Ai, meu Deus!’ gritavam as irmãs, enquanto eram maculadas. Nunca antes elas haviam rezado com tanto fervor. A maioria delas estava conhecendo o que era um homem pela primeira vez e entenderam quão delicioso era o sabor do fruto proibido degustado por Adão e Eva.
No fundo, elas só seguiram as ordens da madre superior que dizia: ‘Se não tiverem escolha e tiverem que pecar, então pequem; mas pequem com convicção, pequem mesmo e depois se arrependam.’ E foi o que as freiras fizeram: pecaram. Pecaram como nunca em todas suas vidas haviam feito antes e descobriram como era gostoso ser uma pecadora. Algumas pecaram a noite inteira, era um peca para cá, peca para lá. Depois das primeiras horas pecando, os homens já estavam cansados e alguns soldados iam batendo em retirada. Enquanto os mais fracos se afastavam do campo de batalha, as irmãs disputavam heroicamente os bravos combatentes que seguiam na guerra santa. A munição dos soldados estava se esgotando antes que o desejo de todas as irmãs tivesse sido saciado. As mais insatisfeitas improvisavam com velas e candelabros uma oração particular, oravam sozinhas para apagar o fogo divino que lhes ardia as entranhas.
Entretanto, um dos guerreiros parecia invencível, era Jorjão, um negrão de quase dois metros e bem armado com uma bazuca no meio das pernas que parecia ter munição infinita. O homem era tão grande que, se ficasse de quatro, poderia ser confundido com um cavalo. Ele parecia uma metralhadora humana e atirava para todos os lados. Ele foi o último a bater em retirada. Já ao raiar do dia, depois de se vangloriar por ter combatido sozinho contra metade do exército aliado, na sua última investida, ele quase enrabou um dos malandros, que apesar de terem entrado em combate continuavam usando o uniforme feminino. Aquela foi a maior suruba de todos os tempos já vista na cidade de Rosa Cruz. A coisa ficou evidente, quando um terço das freiras apareceram grávidas nos meses seguintes. Não adiantava nem tentar alegar que tinha sido obra do espírito santo, pois os soldados orgulhosos do feito, já haviam espalhado pela cidade inteira o que havia acontecido naquela noite.

No final, a Madre foi excomungada pelo vigário, o convento foi fechado e transformado em hospital psiquiátrico. As freiras grávidas largaram o hábito e a cidade ganhou cerca de dez novas famílias. As que não se converteram ao matrimônio, viraram pecadoras profissionais. Mas uma coisa elas mantiveram em comum, a partir daquela noite e para o resto de suas vidas, todas elas adotaram um novo santo padroeiro. Elas continuaram a rezar uma oração solitária em homenagem à espada abençoada de santo Jorjão, o homem (não-padre) que mais descabaçou freiras na história da humanidade.