quarta-feira, 15 de outubro de 2014

PAPÉIS AVULSOS

             As vezes as palavras somem, não sei para onde elas vão. Chega uma hora que elas simplesmente desaparecem. A falta delas me angustia. As palavras somem e o álcool surge. Depois de um gole ou outro elas as vezes voltam a toa, assim como quem não quer nada. Encontro elas perdidas e levo-as para o papel. De repente me pego pensando, por onde elas andavam?

*

            Durante muito tempo vesti a máscara de Joaquim Hunts, o protagonista do meu livro Memórias Sepultadas que em breve será lançado. Fui fazendo dele as minhas palavras e passei a pensar mais com a cabeça dele do que com a minha. No final parece que ele encontrou seu rumo e eu encontrei o meu. Caminhamos que levam para lugares completamente diferentes.
            Já havia lido que chega uma hora em que os personagens ganham vida própria, mas nunca havia sentido isso antes. Não adianta mandar, eles não nos obedecem. Nessas horas temos que ouvir mais o que eles tem a nos dizer do que impor a eles o que deveriam falar. Chega um momento na escrita em que eles já sabem o que fazer e nós apenas os acompanhamos, deixando que sigam a sua busca. Os personagens vão deixando seus autores para trás impotentes e sozinhos assim como ele estava antes de começar a contar aquela história...
         Essa é hora de começar a contar uma nova história. 

domingo, 12 de outubro de 2014

Encontros Inusitados



            Porto Alegre é uma cidade relativamente pequena. Andando pela Cidade Baixa nós sempre acabamos encontrando alguém conhecido. Esses encontros geram novos encontros, pois quando estamos acompanhados acabamos apresentando amigos aos amigos que encontramos pelo caminho e a coisa vai por esse lado.
            Ontem aconteceu uma situação engraçada. Duas pessoas que já deveriam se conhecer, mas não se conheciam acabaram se encontrando.
            Uma amiga e eu estávamos de boa sentados em uma café da República esperando para fazer um pedido. A minha amiga, formada em psicologia havia acabado de sair de uma prova para seleção de mestrado e estava desolada, pois achava que tinha ido muito mal na prova de línguas. Enquanto aguardávamos a garçonete nos atender uma conhecida minha que eu já não via há muito tempo passou e me olhou com aquela cara de "eu te conheço de alguma lugar, mas não lembro bem de onde." Não precisou de mais do que alguns segundos para que lembrássemos que costumávamos nos encontrar nos meetings do Couchsurfing em 2009. Depois disso, eu saí de Porto e nunca mais nos vimos pessoalmente.
            A conversa foi tímida no início. Minha amiga elogiou o vestido da garota que havia chegado e as duas começaram a conversar. Pronto, não precisou mais do que alguns minutos para que as duas se identificassem. Eram praticamente duas almas gêmeas separadas pelo destino até aquele momento que acabavam de se encontrar. As duas são formadas em psicologia, trabalham na mesma Universidade em departamentos diferentes, conheciam as mesmas pessoas, colecionam os meus tipos de objetos, tem predileções pelos mesmos tipos de filme e tem as mesmas ideias sobre qual negócio montariam para ganhar dinheiro. Enfim, uma porção de pontos de convergência. Quantas vezes aquele encontro não foi possível, entretanto nunca se concretizou? Para completar, o namorado da garota do CS ainda era o melhor amigo do cara que havia morado um ano na casa da minha amiga.

            Saímos do café, fomos na casa dela, conhecemos o namorado, bebemos cerveja, tocamos gaita, brincamos de carrinho de controle remoto, atropelamos o boneco do Freud, trocamos dicas de fotografia, contei algumas histórias de viagem e falei sobre a vida no navio em que trabalhava. Depois algumas horas de diversão por lá, minha amiga e eu saímos para não atrapalhar ainda mais os planos daquela noite do casal. E assim, de maneira espontâneas duas pessoas com gostos tão semelhantes se reconheceram. Espero que esse tenha sido apenas o início de um boa amizade entre as duas.

sábado, 11 de outubro de 2014

Uma corrida para arejar as ideias.




            Acordei perturbado. Eu mal havia aberto os olhos e minha mãe entrou no meu quarto com uma xícara de café quente e começou a reclamar das blasfêmias que havia lido no me meu livro. Estava um pouco frustrado por não ter conseguido ir viajar aquele final de semana.
            Olhei para fora e o clima nublado não me inspirava nem um pouco a deixar o meu quarto. Resolvi tomar coragem e deixar a moleza de lado, antes que mais uma vez ela conseguisse me dominar. Botei a roupa de corrida e sai assim que terminei o café. Quando cheguei à rua ainda estava um pouco sonolento, entretanto o ar frio da rua me ajudou a despertar.
            Os passos foram arrastados no início, assim, sem muita vontade. As ruas molhadas refletiam a chuva da noite anterior. Andei em direção ao Gasômetro e comecei a correr de maneira tímida, respirando devagar e acelerando aos poucos. Depois de alguns minutos de exercício já me sentia bem melhor. Sabia que conseguiria chegar até o Estádio Beira-Rio sem parar ou me arrepender. Eis então que o sol surge para iluminar meu caminho e aquecer meu corpo. Na altura do Anfiteatro Pôr-do-Sol já me sentia revigorado e motivado para continuar a correr por um longo tempo. Enquanto isso, a poeira que as impregnava as ideias mofadas ia se dissipando. O vento suave varria a poeira da minha mente para longe, deixando ali as coisas que me faziam entender melhor minhas próprias ações. Travava diálogos imaginários com interlocutores há muito tempo não encontrados e resolvia as equações dos problemas que me afligiam ao despertar.
          Não fui viajar essa semana, mas redescobri que não há nada melhor que uma boa corrida para arejar as ideias.