sábado, 28 de abril de 2012

O FILÓSOFO E A MONTANHA.


O Rio de Janeiro é cheio de eventos. Eles ocorrem o ano todo e são os mais diversos possíveis. Esta semana, estou participando como voluntário da 1º Semana Brasileira de Montanhismo e tem sido uma experiência enriquecedora. Não sou nenhum montanhista experiente, muito menos um grande escalador, mas já tive algumas aventuras. Não cabe aqui citar todas elas.
Talvez, a título de curiosidade, a primeira delas seja interessante mencionar. Minha mãe conta que quando eu tinha cerca de dois anos de idade ela estava no trabalho e recebeu uma ligação da irmã, que tomava conta de mim dizendo que fosse para casa o mais breve possível. Quando ela chegou, eu estava no topo de um armário muito alto, com quase três metros de altura. Minha tia não podia me tirar de lá, pois ela é deficiente física e usa cadeira de rodas. Aquele foi o momento crucial em que minha mãe decidiu largar o trabalho e ir morar no interior, onde considerava mais seguro para criar o filho. Na época, nós moravámos no 11º andar em um apartamento pequeno na rua Demétio Ribeiro em Porto Alegre, o mesmo apartamento em que eu voltaria a morar anos depois.
Considero que a aventura descrita acima foi minha primeira escalada. A medida que o tempo foi passando, essas aventuras foram ficando maiores e sonhos que pareciam impossíveis começam a ficar mais próximos da realidade. No momento, ainda não tenho nenhum equipamento para a prática do esporte, mas tenho muita vontade de aprender cada vez mais sobre essa modalidade. E é a isso que venho me dedicado esta semana.
Antes de conhecer minha esposa Fiona, escalar me pareceia algo intangível. Ela se dedicou arduamente ao esporte, durante muitos anos, até sofrer um grave acidente que a afastou. Com ela, recebi minhas primeiras lições teóricas e ouvindo suas histórias fui contaminado pelo desejo de viver essas experiências. Foi ela que me deu incentivo para ir primeiro para um muro de escalada e depois para a pedra. Após esse empurrãozinho inicial, venho dando meus primeiros passos independentes para tentar progredir no esporte.
No inicio deste mês, Fiona, eu e o famoso alpinista Nigel Vardy passamos um final de semana fazendo escalaminhadas pelo Parque Nacional de Itatiaia. Tive a oportunidade de subir no Pico das Agulhas Negras, mas não cheguei a atingir o cume. Meus parceiros estavam se sentindo mal e após pegar uma série de chaminés muito escorregadias pela frente, sem ninguém para me dar segurança achei melhor voltar. A coisa mais importante na escalada é continuar vivo. Em segundo lugar não sofrer acidentes.
Para se aventurar é preciso aprender a ter responsabilidade sobre os tipos de riscos que corremos e se queremos assumi-los, ou não. Sempre tendo em mente que estamos colocando em risco, potencialmente a vida de outras pessoas também. Mesmo estando temporariamente afastado do sistema formal de ensino: as salas de aula e a Academia, permaneço matriculado, em tempo integral, na escola da vida e a busca incessante pelo conhecimento continua.
O objetivo de subir uma montanha está, então, muito ligado a uma joranda solitária e introspectiva de auto-conhecimento. Como filósofo, conhecer a mim mesmo é o objetivo máximo da minha existência, para consequentemente conhecer o mundo ao meu redor e enteragir com ele de maneira mais harmoniosa. Não sendo, obviamente nem um pouco original nesse propósito, apenas assumindo as orientações do filósofo Sócrates que, por sua vez, tomou esta máxima de uma inscrição no oráculo de Delfos dedicado ao deus Apolo.
Durante o evento desta semana tive a oportunidade de assistir a apresentação de escaladores fantásticos como: Jim Domini, Sérgio Tartari, Alexandre Portela, Colin Haley, entre outros, que relataram algumas de suas conquistas. Para mim, as coisas que esse caras já fizeram estão a anos-luz de distância das minhas modestas ambições como escaldor. Minha maior ambição pessoal é subir o Aconcágua, pois considero uma montanha emblemática na América Latina (mas não decidi ainda qual das faces). Quando estarei preparado material/físico e financeiramente para realizar este sonho, ainda não sei. Mas, com as lições que venho tomando, acho que em no máximo cinco anos essa ambição se tornará viável. Enquanto esse tempo não chega, vou ficar mandando algumas das vias nas enconstas aqui da cidade e seguir apendendo com os melhores.