terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A estrada de Cormac McCarthy

Depois de um período afastado estou de volta. Passei quase um mês longe de Porto Alegre viajando pelo sul: Argentina e Chile, mas agora a Coruja está de volta ao seu covil, cheia de histórias para contar e idéias para compartilhar com seus leitores inexistentes.

A primeira coisa que gostaria de compartilhar são minhas impressões sobre o livro que li durante a volta de Buenos Aires, A estrada de Cormac McCarthy. Não assisti o filme e acho que vou continuar assim para preservar as imagens que criei. (Se não quiser saber o final da história interrompa a leitura deste texto)

Na história um pai e um filho, andam sozinhos em mundo pós-apocalíptico por uma estrada deserta tentando sobreviver. Em um mundo em ruínas os dois lutam desesperadamente para tentar sobreviver. Sempre seguindo em frente. Eles levam o fogo. Eles são os caras do bem. O menino e o homem, duas criaturas arrasadas que só tem um ao outro. A estrada é uma sequência interminável de dor, sofrimento, morte e desolação. O céu é cinza, todas as árvores estão em chamas ou foram queimadas e praticamente não há mais nenhuma forma de vida exceto algumas pobre almas que vagam perdidas na imensidão desolada. As descrições precisas e detalhadas criam uma atmosfera envolvente e extremamente realista.

A estrada mantém um tom sério do início ao fim e nos faz temer o frio, a fome e a sede e principalmente as outras pessoas que vagam imundas em busca de comida. Como em Thomas Hobbes, o homem voltou ao estado de natureza e sem nenhuma forma de governo ou sociedade estabelecida, o homem voltou a ser o lobo do homem (Homo homini lupus). Em nenhum momento se explica o que causou a devastação do mundo ou o que levou a sua destruição. É como se todos nós já soubéssemos. Não ocorreu nada de especial, apenas continuamos a viver como vivemos agora, extinguindo todos os recursos do planeta, até a sua exaustão quando qualqer forma de vida torne-se insustentável. Os alertadores do fogo são ignorados porque vêem as cinzas onde outros ainda nem viram o fogo. Nosso modo de vida nos levará a extinção e no fim o último dos homens não saberá se ele é realmente o último ou se ainda restará, mais alguém sobre a face da terra.

Os personagens na história não têm nomes e eles terminam caminhando pela mesma estrada deserta por onde começaram, sem sabermos de onde vinham ou para onde vão (pelo menos um deles). Mas em um mundo onde tudo desmorona nomes deixaram de ser importantes. As pessoa não se preocupam em guardar memórias ou em escrever sua própria história apenas lutam para continuar mais um dia vivas e dar outro passo e continuam em frente na estrada sem fim, até o fim de seus dias.

Nenhum comentário: