quarta-feira, 10 de maio de 2017

Lula: humano, demasiadamente humano.


Tenho, intencionalmente, me omitido a falar publicamente sobre a política nacional ao longo dos últimos dois anos. Mas resolvi que é hora de interromper meu silêncio e me inserir no debate que toma conta do Brasil.

O depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro tem causado amplas reações no país. O ex-presidente sofre visivelmente uma perseguição da mídia que busca culpabilizá-lo antes da decisão final da justiça.

Lula não é anjo nem demônio. Por mais que a elite branca procure fazer todo esforço possível para desmoraliza-lo, não se pode condenar o ex-presidente antes da hora. Nem tão pouco endeusa-lo, como fazem os petistas. Ele é ser um humano e como qualquer cidadão deve possuir amplo direito a defesa das acusações que tem sofrido.

Alguns de seus feitos sociais inegavelmente foram gloriosos, mas a maneira com que eles foram “construídos” é condenável.

Sem sombra de dúvidas Lula é culpado de alguma coisa. Mas de que? Talvez o seu maior crime seja a incompetência. Se Lula não tem culpa dos crimes cometidos durante seus governos, ele é culpável por se aliar a um grupo de criminosos que o cercava. 

Se ele sabia dos crimes que aconteciam em seu governo ele é cúmplice, se ele não sabia é um ignorante


E o governante máximo do país não pode ser nem uma coisa nem outra, nem conivente, nem incapaz de perceber as atrocidades que acontecem durante seu governo.

Lula se apresenta como um pré-candidato para as próximas eleições. Mas mesmo que Lula não se torne inelegível, ele não merece ser eleito porque durante seu governo inúmeros atos de corrupção, já comprovados pela justiça, foram praticados por seus aliados.

A tendência natural é que aqueles destituídos do poder tendem a querer se vingar daqueles que o perseguiram. E o ex-presidente se reeleito fosse dificilmente fugiria dessa tendência. Um novo governo do PT, portanto, seria um desastre e se tornaria uma caça-as-bruxas. Sem sombra de dúvidas a esquerda não possui uma alternativa viável. Por isso se esforça em depositar suas esperanças em um político que não merece mais credibilidade.

Mas a verdadeira condenação ou absolvição será feita no seu devido tempo, nas urnas em 2018, elas darão o veredito.


O texto acima manifesta a opinião de um proletário branco esclarecido.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

“Bandido bom é bandido morto?”


Quem não pensam assim? Uma minoria dos brasileiros de acordo com o Datafolha.

Houve um tempo em que os estados não eram tolerantes e os criminosos eram executados em praça pública.

Essa semana o caos no sistema penitenciário nacional veio à tona por causa dos massacres nos presídios de Manaus e Boa Vista. Como se o problema já não existisse dede muito antes do Carandiru.

A resposta do presidente foi rápida e pontual.
- Vamos construir mais presídios.

Ou seja, em breve teremos novos palcos para outros massacres. Gostaria que ele tivesse dito.
- Vamos produzir menos criminosos.

Mas o que fazer com o problema da superlotação dos presídios. Mandar matar?

- Presidio não resolve. Manda matar todos eles. Faz picadinho. Não deixa sobrar um – disse um taxista ex-sargento da brigada.

- Tá com pena, então leva eles para casa. Quem não quer um bandido na sala de estar, ao lado da TV, parado feito uma samambaia – falou meu vizinho ogro.   

Se fizessem um plebiscito sobre quem prefere esses bandidos mortos e quem quer eles soltos. Qual você achar que seria o resultado? Aposto que descobriríamos que a maioria da população aprova a morte de criminosos em nome da própria segurança.

Dois fatos são inegáveis:
Primeiro a maioria dos presos é irrecuperável. Depois de uma condenação são poucos os que se regeneram.
Segundo os custos dos presos para o estado é altíssimo. Novas vagas no sistema prisional, por exemplo, custariam em torno de 40 a 50 mil reais por preso, de acordo com a Veja dessa semana. E não é justo que as pessoas honestas paguem essa conta.  

Em uma rápida pesquisa você poderá descobrir que em vários países a pena da morte ainda é praticada.

Mas antes de achar que a pena de morte é a solução, pense bem.

Existe um motivo para que a maioria dos estados democráticos modernos ter abolido a pena de morte. Basta fazer um retrospecto para p
erceber que muitos inocentes seriam mortos injustamente. Como ocorreu com Jesus Cristo, Sócrates, Giordano Bruno e tantos outros caras legais que foram condenados à morte pelo estado em que residiam.

Já que não dá pra matar, que obrigar eles a fazerem trabalhos forçados, ou a volta da escravidão no Brasil.

A solução perfeita parece ser expulsar eles do país. Manda os criminosos para um país bem longe, tipo Austrália. Aliás foi assim que teve início a colonização daquele país, quando o governo britânico, em 1786 determinou o estabelecimento de uma colônia penal em Botany Bay para onde mandava infratores condenados.


Para que essa solução funcione no Brasil só falta achar um território bem grande para onde todos os presos possam ser enviados. Aliás, alguém sabe como anda o processo de colonização da Antártida.

domingo, 7 de dezembro de 2014

ESCREVENDO O LIVRO MEMÓRIAS SEPULTADAS

             As pessoas me pergunta sobre como foi o processo de escrever meu primeiro romance.

             Confesso a vocês que não foi nada fácil.

           Eu sempre quis ser um escritor, era o meu sonho desde a infância. Esse foi um dos motivos que me levaram a estudar Filosofia na universidade e fazer um mestrado sobre Artes em que o tema principal são as tragédias gregas.

            Apesar de sempre ler muito, nunca me sentia bom o bastante para começar a escrever um romance. Sempre achava que precisava me preparar mais para poder contar um boa história. Até que percebi que escrever é como dançar, ou tocar um instrumento musical, você precisa praticar muito até ficar razoavelmente bom naquilo. Para me preparar comecei a escrever com mais regularidade, fiz algumas oficinas literárias, curso de roteiro cinematográfico, conversei com escritores famosos e pesquisei muito sobre o tema que queria escrever. Ainda hoje, não acho que escreva tão bem quanto gostaria. Mas estou satisfeito com o resultado do meu primeiro trabalho.
                                                        
            As primeiras anotações para o livro Memórias Sepultadas começaram a ser feitas em 2004. Mas foi só em  2008 que comecei a levar o projeto a sério. Meu mestrado porém tomou todo meu tempo livre e tive que, mais uma vez, adiar o projeto. Em 2011 parei de lecionar e comecei a me dedicar com exclusividade para finalizar esse romance. Após um ano digitando todas as minhas anotações e escrevendo as partes que faltavam, dei por encerrada a primeira versão da história. Depois, durante mais de dois anos fiquei revisando incessantemente e aprimorando a linguagem do texto. Quando tudo finalmente ficou como eu queria, mandei para a revisão.

            Muita coisa mudou desde o inicio da história. É difícil contar o que, ou entrar em detalhes, sem estragar parte do enredo, portanto, só falarei sobre isso depois que a história já for mais conhecida. O que posso dizer é que uma das minhas personagens favoritas foi excluída na versão final. Esse episódio se passava durante a Guerra do Paraguai e ficou de fora pelo tema e por causa do cenário não serem os mesmo que a história principal. Essa parte virou um conto independente chamo Ana Guerra que ainda não foi publicado e pode servir como base para uma nova narrativa longa (ainda não decidi).
            O ramo da arte é ardiloso. Você quer trabalhar nele, mas precisa viver. Então, arruma um emprego, e depois na hora de se dedicar à arte está tão cansado que não consegue fazê-lo. Mas quando amamos o que fazemos, encontramos um jeito de continuar fazendo. Eu sempre procurei empregos que me dessem a chance de escrever durante o expediente, nem que fosse só por alguns momentos. Sempre andava com uma caderneta no bolso e anotava cada ideia que tinha, depois selecionava as melhores para seguir em frente.      
            A escrita desse livro foi movida a desafios. Primeiramente pessoal, queria provar para mim mesmo que seria capaz de escrever uma narrativa longa e envolvente. O segundo desafio foi de uma amigo que em 2010 me disse que começar um livro era fácil o difícil seria terminá-lo. Ele estava certo, mas depois de muito empenho, consegui e estou contente com o resultado.
              Muitas pessoas me ajudaram a prosseguir ao longo da minha vida. Ainda não posso viver daquilo que escrevo, mas com persistência espero chegar lá. E mesmo que nunca consiga, jamais deixarei de escrever, pois isso me dá prazer.
            Sucesso e fracasso são questões relativas. O meu maior medo era de não escrever uma boa história. O pior que poderia acontecer era não conseguir terminar o livro. Só que isso eu consegui. Então, para mim, o livro já é um sucesso. Mesmo que ninguém mais estivesse satisfeito com o resultado final, isso não importaria, pois o livro já cumpriu a sua função. 

       Aprendi muita coisa escrevendo essa história. Agora que já estou familiarizado com os instrumentos da escrita, tenho uma visão complexa do processo pelo qual passei e tenho segurança para afirmar que será mais fácil escrever o próximo trabalho. Quanto ao fato de ter um grande público de leitores é um questão de tempo, pois sempre acreditei que um trabalho de qualidade cedo ou tarde encontrará o seu publico e será reconhecido como uma obra de arte de valor.


            Obrigado a todos os meus leitores.      

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A Última Noite no Convento

Essa história foi lida pela primeira vez em público ontem a noite 30-12-2014, no evento Vênus em Fúria - Sarau Pornô realizado no Signos Pub, na rua Joaquim Nabuco, Porto Alegre.


"Aquela foi a maior suruba de todos os tempos vista na cidade de Rosa Cruz."

A Última Noite no Convento

Essa história é verdadeira. Ela aconteceu em maio de 1941, em uma cidadezinha pouco conhecida chamada Rosa Cruz. Tudo começou depois da queda da ponte da cidade após um grande temporal. A cidade decretou estado de emergência, e o exército foi chamado para ajudar. Porém não havia onde acomodá-los, todas as casas, igreja, escolas e qualquer outro prédio público estavam inabitáveis, ou ocupados pelos desabrigados. O prefeito interino, Perpétuo Bocaiúva, teve então a brilhante ideia de hospedar um batalhão de quarenta soldados no único lugar que não tinha sofrido nenhum dano com as chuvas: o convento Nossa Senhora da Rosa Mística.
A coordenadora do lugar, Madre Teresa Dávila, diante da calamidade, cedeu aos apelos do prefeito e após o juramento do Major Godoberto Siqueira de Almeida Neto Fagundes dos Santos Filho de que nada de errado ocorreria, ela isolou metade do prédio para que os homens pudessem pernoitar lá. A construção quadrangular com um amplo pátio interno foi adaptada para receber, excepcionalmente por uma noite, aqueles hóspedes inusitados. As freiras ficariam na ala leste e os soldados na ala oeste, a ala sul e norte foram fechadas. Era um estado de emergência e os responsáveis concordaram que seria possível controlar a situação por uma noite, mais do que isso seria muito arriscado. As freiras eram pessoas castas, mesmo assim eram humanas, não seria saudável expô-las à tamanha provação da sua castidade, deixando-as à mercê de um bando de homens musculosos. Mas aquela seria uma noite inesquecível para todos e ficaria registrada no anedotário da cidade para sempre
As luzes dos corredores foram apagadas cedo. Todas as portas foram trancadas à chave e cada uma delas revisada três vezes. As chaves foram todas entregues à madre superiora. Os soldados estavam todos ouriçados e fizeram uma aposta para ver quem seria o primeiro a transar com uma das freiras. Neto e Gouveia, os dois soldados mais malandros do batalhão, resolveram aprontar uma brincadeira com os colegas. Os dois fugiram pela janela, foram até o varal, pegaram roupas de freiras e se vestiram como elas. Eles bloquearam a saída dos quartos da madre superiora e do major. Depois encontram numa sala vazia na ala leste e começaram o show. Usando luzes, os dois projetaram sombras na parede e simularam duas freiras tendo relações sexuais. Do outro lado, um dos soldados de binóculo viu e começou a acordar os outros. Os dois malandros soltavam gemidos estridentes, enquanto encenavam a cena de sexo oral. Aos poucos, as luzes da ala masculina começaram a se acender uma a uma e logo os quatro andares, com oito janelas em cada um deles, estavam iluminados. Em todas as janelas havia homens excitados assistindo aquela cena. Os soldados já estavam ficando loucos, até que não aguentaram mais e, ali mesmo nas janelas, puxaram os membros para fora das calças e começaram a se masturbar.
Uma das freiras do outro lado ouviu a movimentação e abriu a janela para ver o que estava acontecendo. Qual não foi sua surpresa quando ela viu, na sua frente, trinta e duas janelas abertas, todas elas com homens bem dotados. A mulher quase teve um desmaio naquela hora. Sem que percebesse, ela foi contagiada por aquele ambiente de virilidade e testosterona; logo ela, que sempre fora tão casta, tão pura, tão devota, colocou a mão no seu órgão sexual — como se quisesse calar o grito que dali queria sair — e começou a se tocar também. Nessa hora, o prazer parecia ser uma das belas criações divinas e só poderia ser um engano que aquilo figurasse na lista dos pecados. Os soldados a viram e isso a deixou ainda mais disposta a pecar. Seus gemidos e as luzes acesas acordaram suas colegas de quarto. As outras freiras também abriram as janelas para ver o que se passava. Uma foi acordando a outra e logo a ala leste inteira estava desperta, havia trinta e duas janelas com as luzes acesas, cada uma delas com mais de uma freira, todas elas olhando para aquele bando de homens com suas armas expostas, manobrando com perícia e destreza seus instrumentos. Num misto de temor e tremor, todos pareciam contagiar-se com a atmosfera que tomava conta do lugar; o cheiro de sexo estava no ar e ao respirarem aquilo, era como se que todos tivessem voltado a ser crianças, naquela inocente brincadeira de ‘mostra o teu que eu mostro o meu’. As freiras começaram a se tocar e logo eram trinta e duas janelas com homens se masturbando de um lado e trinta e uma janelas com freiras se tocando castamente do outro. Algumas mais ousadas auxiliavam as mais recatadas a se despirem e ensaiavam algumas carícias puritanas. As mais pecaminosas mandavam beijos para os soldados e as mais ousadas chamavam os soldados com os dedos provocativos, para que viessem comungar daqueles corpos-santos, já ardentes de desejo.
Os soldados eram bem treinados e não podiam resistir a um pedido de ajuda. Não se importando com a idade das freiras, partiram em seu auxílio. Improvisaram cordas com os lençóis, fronhas e cobertas. Foram descendo um a um até o pátio. As freiras, como Rapunzéis pecaminosas, jogavam seus lençóis enrolados como tranças para que seus irmãos de desejo subissem aos seus aposentos. Os soldados, bravamente, iam escalando as cordas improvisadas e invadindo o território aliado; as freiras os recepcionavam calorosamente e auxiliavam os soldados a se despirem de seus uniformes suados. Os soldados, no mais autêntico espírito de comunidade cristã, compartilhavam amigavelmente suas carnes abençoadas. E naquela noite, não houve soldado que quisesse fugir da batalha, nem freira que tenha evitado pronunciar o nome de Deus em vão. ‘Ai, meu Deus!’ gritavam as irmãs, enquanto eram maculadas. Nunca antes elas haviam rezado com tanto fervor. A maioria delas estava conhecendo o que era um homem pela primeira vez e entenderam quão delicioso era o sabor do fruto proibido degustado por Adão e Eva.
No fundo, elas só seguiram as ordens da madre superior que dizia: ‘Se não tiverem escolha e tiverem que pecar, então pequem; mas pequem com convicção, pequem mesmo e depois se arrependam.’ E foi o que as freiras fizeram: pecaram. Pecaram como nunca em todas suas vidas haviam feito antes e descobriram como era gostoso ser uma pecadora. Algumas pecaram a noite inteira, era um peca para cá, peca para lá. Depois das primeiras horas pecando, os homens já estavam cansados e alguns soldados iam batendo em retirada. Enquanto os mais fracos se afastavam do campo de batalha, as irmãs disputavam heroicamente os bravos combatentes que seguiam na guerra santa. A munição dos soldados estava se esgotando antes que o desejo de todas as irmãs tivesse sido saciado. As mais insatisfeitas improvisavam com velas e candelabros uma oração particular, oravam sozinhas para apagar o fogo divino que lhes ardia as entranhas.
Entretanto, um dos guerreiros parecia invencível, era Jorjão, um negrão de quase dois metros e bem armado com uma bazuca no meio das pernas que parecia ter munição infinita. O homem era tão grande que, se ficasse de quatro, poderia ser confundido com um cavalo. Ele parecia uma metralhadora humana e atirava para todos os lados. Ele foi o último a bater em retirada. Já ao raiar do dia, depois de se vangloriar por ter combatido sozinho contra metade do exército aliado, na sua última investida, ele quase enrabou um dos malandros, que apesar de terem entrado em combate continuavam usando o uniforme feminino. Aquela foi a maior suruba de todos os tempos já vista na cidade de Rosa Cruz. A coisa ficou evidente, quando um terço das freiras apareceram grávidas nos meses seguintes. Não adiantava nem tentar alegar que tinha sido obra do espírito santo, pois os soldados orgulhosos do feito, já haviam espalhado pela cidade inteira o que havia acontecido naquela noite.

No final, a Madre foi excomungada pelo vigário, o convento foi fechado e transformado em hospital psiquiátrico. As freiras grávidas largaram o hábito e a cidade ganhou cerca de dez novas famílias. As que não se converteram ao matrimônio, viraram pecadoras profissionais. Mas uma coisa elas mantiveram em comum, a partir daquela noite e para o resto de suas vidas, todas elas adotaram um novo santo padroeiro. Elas continuaram a rezar uma oração solitária em homenagem à espada abençoada de santo Jorjão, o homem (não-padre) que mais descabaçou freiras na história da humanidade.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

PAPÉIS AVULSOS

             As vezes as palavras somem, não sei para onde elas vão. Chega uma hora que elas simplesmente desaparecem. A falta delas me angustia. As palavras somem e o álcool surge. Depois de um gole ou outro elas as vezes voltam a toa, assim como quem não quer nada. Encontro elas perdidas e levo-as para o papel. De repente me pego pensando, por onde elas andavam?

*

            Durante muito tempo vesti a máscara de Joaquim Hunts, o protagonista do meu livro Memórias Sepultadas que em breve será lançado. Fui fazendo dele as minhas palavras e passei a pensar mais com a cabeça dele do que com a minha. No final parece que ele encontrou seu rumo e eu encontrei o meu. Caminhamos que levam para lugares completamente diferentes.
            Já havia lido que chega uma hora em que os personagens ganham vida própria, mas nunca havia sentido isso antes. Não adianta mandar, eles não nos obedecem. Nessas horas temos que ouvir mais o que eles tem a nos dizer do que impor a eles o que deveriam falar. Chega um momento na escrita em que eles já sabem o que fazer e nós apenas os acompanhamos, deixando que sigam a sua busca. Os personagens vão deixando seus autores para trás impotentes e sozinhos assim como ele estava antes de começar a contar aquela história...
         Essa é hora de começar a contar uma nova história. 

domingo, 12 de outubro de 2014

Encontros Inusitados



            Porto Alegre é uma cidade relativamente pequena. Andando pela Cidade Baixa nós sempre acabamos encontrando alguém conhecido. Esses encontros geram novos encontros, pois quando estamos acompanhados acabamos apresentando amigos aos amigos que encontramos pelo caminho e a coisa vai por esse lado.
            Ontem aconteceu uma situação engraçada. Duas pessoas que já deveriam se conhecer, mas não se conheciam acabaram se encontrando.
            Uma amiga e eu estávamos de boa sentados em uma café da República esperando para fazer um pedido. A minha amiga, formada em psicologia havia acabado de sair de uma prova para seleção de mestrado e estava desolada, pois achava que tinha ido muito mal na prova de línguas. Enquanto aguardávamos a garçonete nos atender uma conhecida minha que eu já não via há muito tempo passou e me olhou com aquela cara de "eu te conheço de alguma lugar, mas não lembro bem de onde." Não precisou de mais do que alguns segundos para que lembrássemos que costumávamos nos encontrar nos meetings do Couchsurfing em 2009. Depois disso, eu saí de Porto e nunca mais nos vimos pessoalmente.
            A conversa foi tímida no início. Minha amiga elogiou o vestido da garota que havia chegado e as duas começaram a conversar. Pronto, não precisou mais do que alguns minutos para que as duas se identificassem. Eram praticamente duas almas gêmeas separadas pelo destino até aquele momento que acabavam de se encontrar. As duas são formadas em psicologia, trabalham na mesma Universidade em departamentos diferentes, conheciam as mesmas pessoas, colecionam os meus tipos de objetos, tem predileções pelos mesmos tipos de filme e tem as mesmas ideias sobre qual negócio montariam para ganhar dinheiro. Enfim, uma porção de pontos de convergência. Quantas vezes aquele encontro não foi possível, entretanto nunca se concretizou? Para completar, o namorado da garota do CS ainda era o melhor amigo do cara que havia morado um ano na casa da minha amiga.

            Saímos do café, fomos na casa dela, conhecemos o namorado, bebemos cerveja, tocamos gaita, brincamos de carrinho de controle remoto, atropelamos o boneco do Freud, trocamos dicas de fotografia, contei algumas histórias de viagem e falei sobre a vida no navio em que trabalhava. Depois algumas horas de diversão por lá, minha amiga e eu saímos para não atrapalhar ainda mais os planos daquela noite do casal. E assim, de maneira espontâneas duas pessoas com gostos tão semelhantes se reconheceram. Espero que esse tenha sido apenas o início de um boa amizade entre as duas.

sábado, 11 de outubro de 2014

Uma corrida para arejar as ideias.




            Acordei perturbado. Eu mal havia aberto os olhos e minha mãe entrou no meu quarto com uma xícara de café quente e começou a reclamar das blasfêmias que havia lido no me meu livro. Estava um pouco frustrado por não ter conseguido ir viajar aquele final de semana.
            Olhei para fora e o clima nublado não me inspirava nem um pouco a deixar o meu quarto. Resolvi tomar coragem e deixar a moleza de lado, antes que mais uma vez ela conseguisse me dominar. Botei a roupa de corrida e sai assim que terminei o café. Quando cheguei à rua ainda estava um pouco sonolento, entretanto o ar frio da rua me ajudou a despertar.
            Os passos foram arrastados no início, assim, sem muita vontade. As ruas molhadas refletiam a chuva da noite anterior. Andei em direção ao Gasômetro e comecei a correr de maneira tímida, respirando devagar e acelerando aos poucos. Depois de alguns minutos de exercício já me sentia bem melhor. Sabia que conseguiria chegar até o Estádio Beira-Rio sem parar ou me arrepender. Eis então que o sol surge para iluminar meu caminho e aquecer meu corpo. Na altura do Anfiteatro Pôr-do-Sol já me sentia revigorado e motivado para continuar a correr por um longo tempo. Enquanto isso, a poeira que as impregnava as ideias mofadas ia se dissipando. O vento suave varria a poeira da minha mente para longe, deixando ali as coisas que me faziam entender melhor minhas próprias ações. Travava diálogos imaginários com interlocutores há muito tempo não encontrados e resolvia as equações dos problemas que me afligiam ao despertar.
          Não fui viajar essa semana, mas redescobri que não há nada melhor que uma boa corrida para arejar as ideias.