I
Vocês já repararam que o mundo anda cada vez menor?
Eu ainda lembro da fazenda dos meus pais.
Era terra que não acabava mais.
Os animais corriam em paz.
Sem cerca ou capataz.
Olhando não via o horizonte.
Trepado no meu pingo ia embora.
Galopando mundo a fora.
Abandonados os espaços rurais fomos morar perto do cais.
Umas casa com pátio, cerca e tv.
Quatro quartos com janelas bem próximas a uma favela.
Quando cansei de ser filho, fui ao mundo.
Virei marido e morei no meu primeiro apartamento.
Três quartos, sala, cozinha e sacada.
Veio a separação, repartimos as bagunças.
Ela ficou com as crianças e cada um seguiu sua dança.
Fui morar em um quitinete.
Mal couberam minhas coisas.
Muita tralha foi posta fora.
Só ficou o que era útil.
Até que um dia, resolvi me amigar.
Ela veio sem frescura, botando ordem em tudo como se ali fosse sempre seu.
Agora vivo no banheiro.
Quando brigamos sento embaixo do chuveiro, que pinga esporadicamente molhando minhas lentes.
O que me preocupa é meu próximo lar, que será ainda menor.
Só espero que não fechem meu caixão antes que eu pare de respirar.
Será que minha sepultura vai ter vista para o mar?
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