Sempre quis um parceirinho. Essa semana subi o morro. Desci já loco pra sair queimando. Meu brinquedo dá a mesma sensação de dirigir um carro em alta velocidade. Faz o sujeito se sentir home. Essa noite eu vou apagar alguém. Não pode ser ninguém conhecido. Preciso matar pra saber se tenho coragem. Na hora H eu não posso amarelar. Hoje vou saber se quando um vagabundo chega pra me metê vô ter culhão para despachar o infeliz. Pode ser qualquer um, um mendigão tá bom. Descarrego o tambor e saio correndo. Posso fingir um assalto e matar um playboy, ou robo ele mesmo, depois de morto. Bom seria pegar um paty dessas que nunca ia me dar. Toma vagabunda pei-pei-pei, bem no melão. Gastou mais de uma barão em plásticas e agora já era. Se fudeu! Qualquer um, eu posso apagar qualquer um. Eu estou com o poder em minhas mãos. Entro no buzão com a mão coçando, loco pra fazer uma besteira. Aqui não, tem muita gente. Quando fizer vai ser bem de cantinho. “Passa a mochila magrão”, anuncia o pivete do banco de trás com a faca no meu pescoço. “Bem quietinho”. Puta que pariu! Passo tudo com o cú na mão. Ele mexe e já está com minha arma na mão. “Tu é da policia porra!” “Não sô não, só fui...” termino a história deitado no chão ensanguentado, sem ter usado meu canhão.
sábado, 17 de maio de 2008
Parceirinho
Sempre quis um parceirinho. Essa semana subi o morro. Desci já loco pra sair queimando. Meu brinquedo dá a mesma sensação de dirigir um carro em alta velocidade. Faz o sujeito se sentir home. Essa noite eu vou apagar alguém. Não pode ser ninguém conhecido. Preciso matar pra saber se tenho coragem. Na hora H eu não posso amarelar. Hoje vou saber se quando um vagabundo chega pra me metê vô ter culhão para despachar o infeliz. Pode ser qualquer um, um mendigão tá bom. Descarrego o tambor e saio correndo. Posso fingir um assalto e matar um playboy, ou robo ele mesmo, depois de morto. Bom seria pegar um paty dessas que nunca ia me dar. Toma vagabunda pei-pei-pei, bem no melão. Gastou mais de uma barão em plásticas e agora já era. Se fudeu! Qualquer um, eu posso apagar qualquer um. Eu estou com o poder em minhas mãos. Entro no buzão com a mão coçando, loco pra fazer uma besteira. Aqui não, tem muita gente. Quando fizer vai ser bem de cantinho. “Passa a mochila magrão”, anuncia o pivete do banco de trás com a faca no meu pescoço. “Bem quietinho”. Puta que pariu! Passo tudo com o cú na mão. Ele mexe e já está com minha arma na mão. “Tu é da policia porra!” “Não sô não, só fui...” termino a história deitado no chão ensanguentado, sem ter usado meu canhão.
Ontem
Ontem sai de casa. Hoje decidi voltar. Quando cheiguei de madrugada, a cama estava vazia. Ontem nós brigamos. Seu rosto estava afogueado e as mãos cobriam os seios nus. Esta foi a última vez que a vi. Na hora mais importante de minha vida fui um covarde. Vi que não podia fazer nada. Eu não tinha forças e fugi. Fui incapaz de dizer: te amo. Ontem minha vida acabou e eu nem vi.
Escamas
Depois de vestir uma roupa simples e seu melhor par de sapatos, ele saiu de seu apartamento. Entrou no elevador e logo deixou para trás o prédio. Caminhou em direção ao Mercado Público da cidade, com o olhar fixo em seus pés. Tranquilamente escolheu duas tainhas de pupilas foscas e guelras escuras, ignorando os apelos insistentes dos peixeiros que clamavam por atenção. Pediu que as embrulhassem sem limpá-las. Com passos precisos, deslizou entre a multidão e atravessou o largo em direção ao Chalé da Praça XV. Passou pelo camelódromo e entrou em um dos muitos prédios da Otávio Rocha. Subiu três andares até o ateliê da costureira que fez seus ternos nos últimos vinte anos. Cumprimeintou-a com seu jeito sereno. Vestiu calado o terno perfeito, ignorando os comentários da velha senhora, mirrou-se demonaradamente no espelho, enquanto abotoava dois dos três botões do paletó. Satisfeito com o que viu abandonou suas antigas roupas e pagou o serviço com uma gorgeta generosa. Ganhando a rua caminhou até uma banca de flores com seu embrulho próximo ao corpo. Escolheu alguns cravos brancos, ocolhedoramente levou-os no braço esquerdo como uma delicadeza maternal. No caminho de volta parou para engraxar os sapatos e falou sobre a instabilidade do clima com o engraxate. Alegando não ter troco, foi sovina e pagou apenas dois terços do que o homem pedia. Antes de chegar parou em uma loja de artigos esotéricos para comprar velas brancas. Ao lado do seu prédio entrou na barbearia. Aguardou tranquilo sua vez, enqaunto foleava uma revista. Cortou os cabelos, fez a barba e foi embora. Ao entrar no prédio, o porteiro tentando ser simpático comentou sua elegância e perguntou onde seria a festa. Calmo como sempre ele sorriu de forma displicente e entrou no elevador. Abriu a porta de seu apartamento devagar. Colocou as sacolas em cima da mesa, desembrulhou os peixes e colocou-os atrás da porta depois de fecha-la. Acendeu as velas no chão ao redor do seu leito, tomou um cálice de morte, deitou-se na cama com as flores nas mãos e abotoou o último botão de seu paletó.
O Verbo Falo
Eu falo.
Tu falo.
Ela não falo.
Eles falos.
Elas não falos.
Nós falimos de tanto falar em flácidos falos faltosos de fendas frondosas famintas de féculas feitas nessa falocracia...
Tu falo.
Ela não falo.
Eles falos.
Elas não falos.
Nós falimos de tanto falar em flácidos falos faltosos de fendas frondosas famintas de féculas feitas nessa falocracia...
Lar
I
Vocês já repararam que o mundo anda cada vez menor?
Eu ainda lembro da fazenda dos meus pais.
Era terra que não acabava mais.
Os animais corriam em paz.
Sem cerca ou capataz.
Olhando não via o horizonte.
Trepado no meu pingo ia embora.
Galopando mundo a fora.
Abandonados os espaços rurais fomos morar perto do cais.
Umas casa com pátio, cerca e tv.
Quatro quartos com janelas bem próximas a uma favela.
Quando cansei de ser filho, fui ao mundo.
Virei marido e morei no meu primeiro apartamento.
Três quartos, sala, cozinha e sacada.
Veio a separação, repartimos as bagunças.
Ela ficou com as crianças e cada um seguiu sua dança.
Fui morar em um quitinete.
Mal couberam minhas coisas.
Muita tralha foi posta fora.
Só ficou o que era útil.
Até que um dia, resolvi me amigar.
Ela veio sem frescura, botando ordem em tudo como se ali fosse sempre seu.
Agora vivo no banheiro.
Quando brigamos sento embaixo do chuveiro, que pinga esporadicamente molhando minhas lentes.
O que me preocupa é meu próximo lar, que será ainda menor.
Só espero que não fechem meu caixão antes que eu pare de respirar.
Será que minha sepultura vai ter vista para o mar?
Tenho pressa
I
Tenho pressa.
Tá tarde, tá tarde, tá tarde.
Quero acabar. Não quero continuar.
Não quero terminar, só quero não fazer nada.
Pronto agora vem o tédio e a culpa.
Devo fazer algo. Não posso ficar parado.
O tempo está passando. Tic-tac, tic-tac, tic-tac.
Ainda é cedo. Vai dar tempo pra fazer muita coisa ainda.
É só começar.
Primeiro isso. Agora quilo.
Daqui a pouco eu começo.
Vou tirar um cochilo, pra acordar bem disposto.
Droga dormi de mais. Perdi o dia todo.
Melhor deixar para amanhã.
Hoje já está perdido.
Amanhã é um novo dia.
Como é difícil ser
Como é difícil ser o escritor que gostaria de ser.
Como é difícil ser o ser humano que gostaria de ser.
Mesmo assim não deixo de querer.
Como é difícil ser o amante que gostaria de ser.
Como é difícil ser o amigo que gostaria de ser.
Mesmo assim não deixo de querer.
Como é difícil ser o filho que gostaria de ser.
Como é difícil ser o "título" que gostaria de ser.
Mesmo assim não deixo de querer.
Quando consigo ser o que queria ser, logo deixo de querer.
E por mais que eu tente.
Nunca deixo de querer vir a ser algo que não sou.
Como é difícil ser o ser humano que gostaria de ser.
Mesmo assim não deixo de querer.
Como é difícil ser o amante que gostaria de ser.
Como é difícil ser o amigo que gostaria de ser.
Mesmo assim não deixo de querer.
Como é difícil ser o filho que gostaria de ser.
Como é difícil ser o "título" que gostaria de ser.
Mesmo assim não deixo de querer.
Quando consigo ser o que queria ser, logo deixo de querer.
E por mais que eu tente.
Nunca deixo de querer vir a ser algo que não sou.
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