O Rio de
Janeiro é cheio de eventos. Eles ocorrem o ano todo e são os mais diversos
possíveis. Esta semana, estou participando como voluntário da 1º Semana Brasileira de
Montanhismo e tem sido uma experiência enriquecedora. Não sou nenhum
montanhista experiente, muito menos um grande escalador, mas já tive algumas
aventuras. Não cabe aqui citar todas elas.
Talvez, a
título de curiosidade, a primeira delas seja interessante mencionar. Minha mãe
conta que quando eu tinha cerca de dois anos de idade ela estava no trabalho e
recebeu uma ligação da irmã, que tomava conta de mim dizendo que fosse para
casa o mais breve possível. Quando ela chegou, eu estava no topo de um armário
muito alto, com quase três metros de altura. Minha tia não podia me tirar de lá,
pois ela é deficiente física e usa cadeira de rodas. Aquele foi o momento
crucial em que minha mãe decidiu largar o trabalho e ir morar no interior, onde
considerava mais seguro para criar o filho. Na época, nós moravámos no 11º
andar em um apartamento pequeno na rua Demétio Ribeiro em Porto Alegre, o mesmo
apartamento em que eu voltaria a morar anos depois.
Considero que
a aventura descrita acima foi minha primeira escalada. A medida que o tempo foi
passando, essas aventuras foram ficando maiores e sonhos que pareciam
impossíveis começam a ficar mais próximos da realidade. No momento, ainda não
tenho nenhum equipamento para a prática do esporte, mas tenho muita vontade de
aprender cada vez mais sobre essa modalidade. E é a isso que venho me dedicado
esta semana.
Antes de
conhecer minha esposa Fiona, escalar me pareceia algo intangível. Ela se
dedicou arduamente ao esporte, durante muitos anos, até sofrer um grave
acidente que a afastou. Com ela, recebi minhas primeiras lições teóricas e
ouvindo suas histórias fui contaminado pelo desejo de viver essas experiências.
Foi ela que me deu incentivo para ir primeiro para um muro de escalada e depois
para a pedra. Após esse empurrãozinho inicial, venho dando meus primeiros
passos independentes para tentar progredir no esporte.
No inicio
deste mês, Fiona, eu e o famoso alpinista Nigel Vardy
passamos um final de semana fazendo escalaminhadas pelo Parque Nacional de Itatiaia.
Tive a oportunidade de subir no Pico das Agulhas Negras, mas não cheguei a
atingir o cume. Meus parceiros estavam se sentindo mal e após pegar uma série
de chaminés muito escorregadias pela frente, sem ninguém para me dar segurança
achei melhor voltar. A coisa mais importante na escalada é continuar vivo. Em
segundo lugar não sofrer acidentes.
Para se
aventurar é preciso aprender a ter responsabilidade sobre os tipos de riscos
que corremos e se queremos assumi-los, ou não. Sempre tendo em mente que
estamos colocando em risco, potencialmente a vida de outras pessoas também. Mesmo
estando temporariamente afastado do sistema formal de ensino: as salas de aula
e a Academia, permaneço matriculado, em tempo integral, na escola da vida e a
busca incessante pelo conhecimento continua.
O objetivo de
subir uma montanha está, então, muito ligado a uma joranda solitária e
introspectiva de auto-conhecimento. Como filósofo, conhecer a mim mesmo é o
objetivo máximo da minha existência, para consequentemente conhecer o mundo ao
meu redor e enteragir com ele de maneira mais harmoniosa. Não sendo, obviamente
nem um pouco original nesse propósito, apenas assumindo as orientações do filósofo
Sócrates que, por sua vez, tomou esta máxima de uma inscrição no oráculo de
Delfos dedicado ao deus Apolo.
Durante o
evento desta semana tive a oportunidade de assistir a apresentação de
escaladores fantásticos como: Jim Domini, Sérgio Tartari, Alexandre Portela,
Colin Haley, entre outros, que relataram algumas de suas conquistas. Para mim,
as coisas que esse caras já fizeram estão a anos-luz de distância das minhas
modestas ambições como escaldor. Minha maior ambição pessoal é subir o
Aconcágua, pois considero uma montanha emblemática na América Latina (mas não
decidi ainda qual das faces). Quando estarei preparado material/físico e financeiramente
para realizar este sonho, ainda não sei. Mas, com as lições que venho tomando,
acho que em no máximo cinco anos essa ambição se tornará viável. Enquanto esse
tempo não chega, vou ficar mandando algumas das vias nas enconstas aqui da
cidade e seguir apendendo com os melhores.
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